Por Josué Roupinha Jr.
Às vésperas do Dia da Consciência Negra, as redes sociais começam a borbulhar.
É comum lermos e ouvirmos discursos categóricos afirmando que este dia é uma perda de tempo; que esta data só reforça o racismo ou que nós somos todos iguais, independentemente da cor da pele.
Será mesmo?
Gostaria de bater um papo com você, leitor. Particularmente, cresci em uma família na qual a maioria dos meus familiares teve acesso à Educação de qualidade. Todos eles tiveram acesso à Saneamento Básico, à transporte público de qualidade, à moradia e à comida na mesa. Diferententemente de muitos conhecidos nossos, também negros, os quais não tiveram as mesmas oportunidades – ou privilégios.
Nesse ponto, você deve estar pensando: “ah, mas isso pode acontecer com pretos, pardos, amarelos e brancos”. E eu concordo com você, mas até certo ponto.
Sabe por quê? É importante pontuar dados que mostram o abismo social vivido no Brasil e que reflete as consequências de um povo escravizado:
● A população negra tem 2,7 mais chances de ser vítima de assassinato do que os brancos ( dados do Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil );
● 12,5% de negros comparado a uma fatia de 6% da população branca não tem acesso à coleta de lixo; e 17,9% dos negros contra 11,5% da população branca não tem acesso a abastecimento de água ( dados do Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, divulgados pelo IBGE );
● Após mais de 15 anos das políticas de cotas, o percentual de pretos e pardos que concluíram a graduação cresceu de 2,2% em 2000, para somente 9,3% em 2017 ( dados divulgados em 2018, pelo IBGE );
● Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios ( PNAD Contínua ) mostra que, em 2017, o salário de trabalhadores negros foi inferior ao dos brancos (uma diferença de cerca de R$ 1.200,00, considerando o mesmo nível de formação).
Estes acima são apenas alguns dados sobre a população negra no Brasil, um país que abriga em sua totalidade 55,8% de pretos e pardos autodeclarados ( IBGE ).
Se então os negros são a maioria no país, por que estes dados ainda são tão desiguais?
Isto não responde ao primeiro por quê supracitado neste artigo?
Valinhos, a Capital do Figo Roxo e berço de Adoniran Barbosa, constitui-se como um município formado por famílias italianas principalmente, mas somente após 65 anos de emancipação do município, que a cidade elegeu uma mulher negra para o Executivo.
Este é um importante avanço, sim, porém é necessário que façamos mais e que nos unamos em prol de uma cidade igual para todos.
É necessário cobrarmos do Executivo e do Legislativo empenho em políticas afirmativas e maior participação da comunidade em eventos que valorização a cultura negra no município.
Hoje, por exemplo, dia 20 de Novembro tradicionalmente há, na praça Zumbi dos Palmares, no bairro Bom Retiro, a Festa da Consciência Negra, na qual há sorteios de brindes, apresentação musical de religiões de matrizes africanas, roda de capoeira, dentre outras atrações, promovido pela Associação Cultural Afro-Brasileira de Valinhos. Além disso haverá a comemoração do Dia Internacional da Criança ( ONU) .
Quantos vereadores você já viu presentes ou divulgando este evento? Por que isso é tão importante?
Porque é através da Educação, da participação do Poder Público, da convivência e da conscientização que as nossas crianças e os nossos jovens construirão um futuro melhor.
É por meio da compreensão do ‘outro’ e de suas necessidades, sejam elas individuais ou coletivas, que iremos plantar e semear a semente de uma cidade mais inclusiva, justa e representativa para todos.
Fonte: https://www.todamateria.com.br/consciencia-negra/
Josué Roupinha Jr. é jornalista pós-graduado, professor de marketing, umbandista e proseador da política. Sugestões para a coluna, entre em contato pelo e-mail jroupinha1@gmail.com ou pela página no Facebook Josué Roupinha Jr