“Não foi uma decepção, caro(a) vereador(a). DECEPÇÃO É O CONTRAPONTO DA ESPERANÇA e não havia esperança de encontrarmos a coragem necessária entre os senhores, de enfrentamento aos interesses tão poderosos e contrários ao futuro de Valinhos.“
Com a discussão e posterior aprovação do Plano Diretor pela maioria da Câmara Municipal, o cidadão Arnaldo Machado de Sousa escreveu uma contundente Carta Aberta aos vereadores.
Nascido em Portugal e munícipe de Valinhos há mais de 50 anos, Arnaldo foi secretário de Governo do Prefeito Magalhães Teixeira, em Campinas, Diretor do Data SUS do Ministério da Saúde entre 1997 e 2002, Presidente Empresa IMA de 1983 a 1988 e, atualmente, é membro do grupo das associações, entidades e movimento social que há 8 anos acompanham os trabalhos de revisão do Plano Diretor de Valinhos.
Confira a íntegra do documento:
❝SENHOR VEREADOR(a) da Câmara Municipal de Valinhos.
O momento especial político que vivemos em Valinhos, no Brasil e no mundo, exige dos governantes, DEDICAÇÃO, CIDADANIA, RENUNCIA, TRABALHO, ESFORÇO e especialmente CORAGEM. É preciso ser legítimo e digno representante do povo de Valinhos. E que lhe não falte, principalmente, a CORAGEM, e como tal, olhar as gerações vindouras até os netos dos nossos netos.
E, após, o FUTURO.
É à sua pessoa escolhida que eu me dirijo, embora seja eu um simples e velho cidadão, mas não um velho bagunceiro, atributo que ultimamente se tem dado a quem contesta.
O povo, do qual fazemos parte todos nós, eleitores e eleitos, escolhe e dá ao eleito, um direito e uma responsabilidade, entre muitos outras incumbências necessárias.
Direito de servir aos seus concidadãos e eleitores. Responsabilidade de não usufruir de vantagens não éticas ao desempenhar o HONROSO cargo que, conquistado nas urnas, PODE NÃO SER RECONQUISTADO, SE ASSIM O DECIDIREM OS ELEITORES, QUANDO EXAMINAREM A FIDELIDADE AO VOTO RECEBIDO.
E muitos vereadores bem conduzem seu mandato. Isso é certo.
Entretanto, permito-me dirigir-lhe algumas reflexões sobre o resultado da votação dos Projetos de Lei que revisam o PLANO DIRETOR e da LUOS do município.
Não foi uma decepção, caro(a) vereador(a). DECEPÇÃO É O CONTRAPONTO DA ESPERANÇA e não havia esperança de encontrarmos a coragem necessária entre os senhores, de enfrentamento aos interesses tão poderosos e contrários ao futuro de Valinhos. Então posso dizer: DECEPÇÃO, NÃO, FRUSTRAÇÃO, SIM. O Poder Executivo e a Comissão de Sistematização da Câmara municipal, promoveram dezenas de reuniões e Audiências Púbicas com a sociedade civil, onde deveria ter lugar o CONTRADITÓRIO, o debate. Mas, em ambos os casos, o que vimos foram “ouvidos moucos”.
Inúmeras páginas de documentos com contribuições dessa mesma sociedade, porém não aceitas como contribuição, foram relegadas.
Admoestações, faladas ou escritas, do Ministério Público que tecnicamente levantaram pontos de profundas preocupações com a questão de hídrica, com a mobilidade urbana e com o aumento desnecessário da urbanização que levarão à perda significativas e alarmantes de áreas rurais e de preservação de mananciais. Inacreditavelmente também não tiveram relevância.
O Parecer Jurídico da Comissão de Justiça da Câmara foi desconsiderado.
Os vistos e sentidos sinais de alerta que a natureza nos deu (enchentes, secas, incêndios, ondas de calor, ciclones), prenúncios das imensas mudanças climáticas que já nos chegam, não foram levados em conta.
Mas foram ouvidos os interesses “não-republicanos” que, muito têm a ver com o futuro da nossa cidade, e que a condenam e a sua população a duros sofrimentos e a perda de qualidade de vida.
Tudo isto mostrou a imensa insensibilidade e a pequena capacidade de ouvir a sociedade, ao se apossarem dos Projetos em pauta como se fossem os donos do poder e da verdade.
Na Sessão Extraordinária do dia 06/12, convocada para votação destes dois Projetos de lei, cidadãos valinhenses foram expulsos do Plenário apenas porque solicitaram que fossem públicos os votos dos senhores vereadores.
De velhos baderneiros foram chamados. PRECONCEITO contra pessoas que lutam pela causa em que acreditam, e em que têm o direito de acreditar, no país democrático a que chamamos BRASIL.
Nenhum dos senhores vereadores manifestou repúdio a essa atitude da mesa.
NÃO LHE PERGUNTO SOBRE A VALIDADE DE SEU VOTO. Mas convido-o(a) a repensar se seu voto está alinhado com o futuro e com o bem-estar de nossa cidade. Assim, me atrevo a lhe fazer algumas perguntas simples e a chamá-lo(a) para uma reflexão:
Teve a oportunidade de ler, com atenção, os Projetos nº 185 e 186 da Pauta? Acompanhou, mesmo que de longe, os trabalhos da Comissão de Sistematização para projetos de tal envergadura?
Leu os pareceres do Ministério Público, do Jurídico da Câmara e as contribuições da sociedade civil representada por Associações de Profissionais e de bairros?
AGRICULTORES, URBANISTAS, AMBIENTALISTAS, CIENTISTAS, SOCIÓLOGOS, ECONOMISTAS, HISTORIADORES, ARTISTAS, ADVOGADOS… e CIDADÃOS INCÓGNITOS deram seu trabalho e sua colaboração ao longo de muitos meses, a estudar os interesses maiores de Valinhos.
Era visível, nas reuniões e Audiências Públicas, o desconforto provocado por tanta gente a questionar o PODER. Eram muito mais vozes, dezenas de vezes mais numerosas e mais fortes que as vozes dos vereadores, representantes destas mesmas pessoas que dignificaram a participação autêntica, como sociedade.
E essas vozes foram PERDIDAS na má vontade de quem se sentia obrigado a cumprir apenas o protocolo e rigor da letra da Lei e não o seu espírito: de ouvir, acolher e aceitar.
Votou como se do seu voto dependesse o futuro de Valinhos e das futuras gerações?
Na votação destes dois Projetos falou muito alto a dependência em relação ao Poder Executivo e ao poder econômico.
Valinhos perdeu uma enorme oportunidade de criar uma VISÃO DE FUTURO para o seu SOLO, seu AR, sua ÁGUA, sua FLORA, sua FAUNA e SUA GENTE.
MAS,
AINDA HAVERÁ A SEGUNDA VOTAÇÃO
AINDA HAVERÁ A SEGUNDA OPORTUNIDADE.
AINDA PODEMOS TER ESPERANÇA! DEUS ILUMINE O SEU VOTO! DEUS PROTEJA VALINHOS!❞