Prof. Marcelo Yoshida*
No último domingo, dia 02 de junho de 2024, foi realizada a 28ª edição da Parada do Orgulho LGBT+ da cidade de São Paulo. Neste ano compareceram, de acordo com a organização do evento, 3 milhões de pessoas para celebrar a diversidade.
O tema foi: “Basta de negligência e retrocesso no Legislativo: vote consciente por direitos da população LGBT”.
Infelizmente a campanha de desinformação e ódio nas redes sociais mostra o quanto ainda é necessário refletir sobre a diversidade sexual e de gênero no nosso país.
Especialmente se analisarmos dois aspectos: a campanha de criação de pânico moral em torno da pauta e a resistência ao avanço até mesmo entre os grupos de esquerda.
No primeiro aspecto percebemos grupos conservadores (evidentemente) desejosos de uma sociedade estéril, longe das liberdades individuais e coletivas, permeados pela culpa cristã e saudosos de um período que nunca existiu, repetindo insistentemente frases de ódio e, no limite, praticando violência das mais variadas possíveis.
A cada processo eleitoral podemos perceber a atualização das estratégias e narrativas para gerar pânico: kit gay, mamadeira de piroca, doutrinação ideológica, transição de gênero e agora, mais recentemente: crianças trans. E sim, crianças trans existem e estiveram na parada domingo. (E não, elas não passam por cirurgia).
No entanto, infelizmente, essa pauta não é só motivo de divergência no campo conservador. Dentro de alguns grupos de esquerda (ou ditos de esquerda) ainda há (muita) resistência ao avanço do debate das políticas públicas sobre o tema.
Há uma desqualificação proposital quando se referem a esse (e a outros) temas como “identitários”, reduzindo o debate a um único campo: o individual. Há também quem diga que essa pauta é menos importante, pois as questões de classe são as definidoras das relações numa sociedade capitalista.
Uma pessoa LGBT é apenas isso ou é também uma série de outras coisas, inclusive parte da classe trabalhadora? É necessário levar o debate para um lugar mais profundo do que apenas, e exclusivamente, uma questão individual ou particular.
Somos pais, mães, filhes, estudantes, operários, professoras, assistentes sociais, artistas, jornalistas, trabalhadores e trabalhadoras. Nossos direitos passam também por sermos parte da sociedade, apesar de grupos quererem insistentemente nos excluir.
E aí ficam os questionamentos:
Quem tem medo das LGBTs?
Por que ainda é tão difícil avançar em direitos e políticas públicas para a população LGBT?
Qual outro movimento leva tantas pessoas para as ruas?
Quem ainda não entendeu que esse tema é incontornável, perderá o bonde da história e ficará remoendo (ou ruminando) as dores da frustração observando as pessoas celebrarem, cada dia mais, a diversidade.
*Prof. Marcelo Yoshida
Bacharel em Direito.
Professor de história da rede municipal de Valinhos.
Especialista em Educação em Direitos Humanos
Primeiro vereador abertamente LGBT+ da história da Câmara Municipal de Valinhos.