Por Claudiney Generoso
“Ney, me ajuda a recolher o lixo?” me disse meu esposo por estes dias, enquanto
limpávamos a casa. Pois, é o verbo importa SIM quando a gente fala de pessoas, de
cidadãs, de humanidade! Isso me fez refletir o quanto as intencionalidades por trás de
um verbo, diz respeito sobre a ação das pessoas. Vejamos, por exemplo, o recente o “PL
da Fome” (Projeto de Lei 445/23), em que o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), da
cidade de São Paulo, tentou proibir a solidariedade das doações de alimentos para as
pessoas em situação de rua, inclusive com a aplicação de multa. Aliás, você sabe quem
representa o partido União Brasil em Valinhos? Importante saber.
A questão das pessoas em situação de rua em Valinhos é um tema que exige reflexão e
ação humanitária, NÃO HIGIENISTA. Recentemente, os dados estatísticos mostram que
a cidade conta com cerca de 170 pessoas vivendo em condições de rua, um aumento
significativo em relação aos anos anteriores. Esse crescimento expõe a urgência de
políticas públicas eficazes e, acima de tudo, humanas.
Recolher ou Acolher?
Quando falamos em “recolher” pessoas em situação de rua, evocamos uma imagem de
retirada, de afastamento do problema dos olhos da sociedade. Este verbo carrega
consigo uma conotação de limpeza urbana, como se essas pessoas fossem um incômodo
a ser removido. Essa abordagem, além de desumana, é ineficaz, pois trata apenas do
sintoma e não das causas estruturais que levam alguém a viver nas ruas, como
desemprego, falta de moradia, problemas de saúde mental e dependência química.
Por outro lado, “acolher” implica em oferecer suporte, em enxergar essas pessoas como
cidadãos que precisam de ajuda (leia-se políticas públicas) e não de rejeição e
estigmatização.
Acolher significa proporcionar abrigo, alimentação, atendimento psicossocial e,
principalmente, respeito. É reconhecer a dignidade humana e trabalhar para reintegrar
essas pessoas na sociedade.
Dados de Valinhos
De acordo com o último levantamento produzido por um serviço especializado de
Valinhos, o número de pessoas em situação de rua só cresce na cidade, principalmente
nos últimos anos. Grande parte dessa população é composta por homens adultos, mas
também há um número crescente de mulheres e jovens. A falta de políticas
habitacionais, o aumento do desemprego e a insuficiência de programas de saúde
mental são fatores que contribuem para esse cenário.
Iniciativas Locais
O Serviço de Acolhimento Institucional (Abrigo) da cidade está com a sua capacidade de
atendimento sempre cheia! São ofertadas somente 30 vagas para a cidade toda!
A cidade de Valinhos tem implementado algumas iniciativas voltadas para a população
em situação de rua, como a criação de abrigos temporários (no frio) e ações solidárias
de distribuição de refeições. No entanto, essas medidas, embora importantes, ainda são
insuficientes. É necessário um plano mais abrangente que envolva a implementação de
outras ofertas para a população em situação de rua que integrem a oferta de moradias
populares, programas de capacitação profissional, além de um suporte robusto em
saúde mental e combate à dependência química.
Por que o Verbo Importa?
A escolha entre “recolher” e “acolher” não é apenas uma questão semântica, mas reflete
a abordagem que a sociedade e o poder público adotam frente a um problema social
grave. Optar pelo verbo “acolher” é decidir por uma política que busca soluções reais e
duradouras, que trata as pessoas com a dignidade e o respeito que merecem.
Para construir uma Valinhos mais justa e inclusiva, é fundamental que todos – governo,
sociedade civil e cidadãos – assumam a responsabilidade de acolher aqueles que mais
precisam. Somente assim poderemos transformar a realidade das pessoas em situação
de rua e promover a verdadeira inclusão social.
Acolher em tempos de barbárie, é revolucionário!
Claudiney Generoso é assistente social, servidor público, com mais de 22 anos de
atuação na Assistência Social/SUAS. Ativista em Direitos Humanos, principalmente,
LGBTQIA+. Especialista em Atendimento Psicossocial às Vítimas de Violência pela UFSCar
e Mestrando no Programa Interdisciplinar em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas da
Unicamp.