Por Igor Lages
Como educador Socioambiental, me arrisco a palpitar também sobre gestão ambiental no âmbito da política pública municipal. Com isso, pretendo contribuir minimamente com a análise e reflexão a respeito deste tema tão importante, dado o cenário mundial de catástrofes que vivemos. Romantizo um tempo em que profissionais das diversas áreas possam contribuir também com a sociedade, colaborando na construção de tais políticas e na análise de quais rumos a cidade em que vivem está indo.
Como cidadão de Valinhos, uma cidade pacata da região metropolitana de Campinas – RMC, observo a perda de uma outrora forte cultura de agricultura familiar, com potencial de alimentar a região, perdendo espaço para implementação de grandes condomínios. A falta de incentivo à agricultura familiar traz consigo uma fragilidade na manutenção de propriedades rurais pelas famílias produtoras, e o conceito de progresso, que predomina, é aquele relacionado apenas à expansão imobiliária, o que acaba comprometendo a manutenção das tradições rurais que levaram a cidade a ser conhecida como Capital do Figo Roxo.
❝ Potencializando o ecoturismo, incentivamos comércios e restaurantes locais, produzimos riqueza financeira a partir da riqueza natural e cultural que possuímos.❞
Com a entrada de uma nova gestão municipal, surgem novas expectativas quanto a soluções de problemas recorrentes que enfrentamos em relação ao meio ambiente e o desenvolvimento da cidade. A recente aprovação do impopular Plano Diretor e sua implementação vão na contramão das necessidades de preservação ambiental. Por conta disso, tal plano foi tão criticado por dezenas de entidades civis da cidade. Com ele, cria-se uma incerteza em diversos territórios rurais, em especial a Serra dos Cocais e suas riquezas naturais.
Como alternativas mais ecológicas, divergindo do Plano de Desenvolvimento da cidade, temos como proposta a valorização das nossas riquezas naturais e históricas, cujo potencial econômico não pode ser desprezado. Dentre as muitas possibilidades, a criação de um polo de turismo para a cidade e região. Com a preservação ambiental e de nossas áreas verdes, estaremos colaborando com a ideia de criação de um cinturão verde regional, algo que é planejado por todas as cidades da região que buscam conectar os fragmentos de mata que temos.
Potencializando o ecoturismo, incentivamos comércios e restaurantes locais, produzimos riqueza financeira a partir da riqueza natural e cultural que possuímos. Considerando nossa localização, vizinha de uma metrópole com carência de espaços verdes, é de se atentar para a potência de atrair o público que busca unir lazer, turismo e preservação. A ideia de transformar a Serra dos Cocais em uma APA é de fundamental importância e planejar um Parque Municipal vai além, promove a preservação, a pesquisa e valorização ambiental, além de potencializar a economia local.
Como educador ambiental e social, procuro propagar a importância e os benefícios que o contato constante com a natureza pode vir a fornecer. Tal contato, além de benefícios ao sistema imunológico, promove o desenvolvimento cognitivo e alívio contra o estresse para crianças, jovens, adultos e idosos, e traz consigo um sentimento de pertencimento, afeto e conscientização, colaborando com a construção de uma identidade com o local. A conscientização é a informação somada ao ato de agir, de mudar a si e buscar a transformação da realidade atual que vivemos.
A criação de locais que oportunizem o contato direto com a Natureza preservada é de obrigação do poder público municipal, que deve incentivar e facilitar atividades que promovam o convívio da sociedade e suas reservas naturais. Pensando na complexidade das questões ambientais tratadas, há de se ter espaço para uma gestão pública participativa, pois é de fundamental importância uma ampla participação social no debate sobre os problemas e elaboração coletiva de soluções.
Uma experiência que tenho vivido é de estar inserido no Coletivo Educador Ambiental Unicamp e Coletivo Educador Ambiental CEI, nos quais realizamos atividades e elaboramos propostas de políticas públicas com a colaboração de estudantes universitários e educadores sociais de uma organização da sociedade civil. Nesta linha, imagino como uma importante realização para o poder público seria centralizar os diversos atores da sociedade civil, seus representantes de associações de moradores, grêmios estudantis, pesquisadores, com ou sem vínculo às universidades da região, além de instituições não governamentais, para que possam juntos se debruçar e dialogar com os desafios da cidade. Temos alagamentos, queimadas, árvores urbanas e a falta de cuidado com elas, os alagamentos constantes devido à falta de um solo permeável, a já dita expansão urbana em direção às áreas verdes e rurais, temas que dão um bom texto para aprofundar.
Espero que a sociedade valorize a tempo o que mais lhe é precioso: a Vida em suas diversas formas, que, quando devidamente preservadas, nos permitem viver. Que a atual gestão e os moradores de Valinhos possam ter tamanha consciência.