Lançamento de artigo revela a história silenciada de Valinhos nos séculos XVIII e XIX, desconstruindo o mito bandeirante, resgatando a presença africana e indígena, além de evidenciar o racismo na produção historiográfica tradicional valinhense.
Um novo artigo acadêmico, intitulado “Valinhos: memória, história e poder”, promete alterar o entendimento sobre a história de Valinhos nos séculos XVIII e XIX. A pesquisa, conduzida pelo historiador valinhense Adauto Damasio, contesta a narrativa tradicional que glorifica os bandeirantes como heróis fundadores e questiona a estratégia política de criação de uma identidade europeia e italiana, trazendo à luz o papel essencial de africanos escravizados e povos indígenas na formação do município.
O artigo foi recentemente publicado na prestigiada Revista Resgate do Centro de Memória da Unicamp, e conta com referências teóricas de autores consagrados tais como a brasileira Lilia Moritz Schwarcz, o francês Jacques Le Goff e o antropólogo haitiano Michel-Rolph Trouillot. Ele faz parte de uma pesquisa mais ampla, ainda em curso, no âmbito da História Social, sobre a ocupação do território de Valinhos, desde antes da chegada dos portugueses até a inauguração da estação ferroviária, em 1872.
O estudo critica a historiografia que:
• Romantizou a firgura do bandeirante, omitindo sua participação na escravização e violência contra indígenas e africanos.
• Usou o poder político para construir uma identidade meramente europeia e especificamente italiana para o município de Valinhos/SP.
• Silenciou a contribuição de negros africanos e indígenas na construção econômica, social e cultural de Valinhos.
• Auxiliou na naturalização do darwinismo social e do racismo.
• Naturalizou narrativas excludentes, perpetuando uma memória histórica que marginaliza grupos subalternizados.
Com base em pesquisa bibliográfica e análise de fontes primárias, o artigo salienta que Valinhos foi moldada pelo trabalho compulsório, resistências e culturas africanas e indígenas, elementos apagados pela historiografia oficial.
Em sua pesquisa sobre a História de Valinhos, o autor também conta com o diálogo e parceria de outros pesquisadores valinhenses preocupados em resgatar outras memórias, em especial, a de Gérsio Pelegatti.
Por que isso importa?
Em um momento de debates sobre memórias e reparações históricas, além da valorização da cultura dos africanos e de seus descendentes no Brasil, o estudo oferece um contraponto urgente às visões idealizadas do passado, propondo uma reflexão crítica sobre identidade na região. Além disso, busca salientar outras memórias e auxiliar na construção de outras identidades para o município de Valinhos.
Onde ler o artigo?
O texto integral do artigo está disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/resgate/article/view/8675651
Sobre o autor:

Adauto Damasio é valinhense desde 1964, Mestre em História Social do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professor das Redes Públicas de Campinas e Valinhos e do Colégio Alethus/Poliedro.
