Plantaram postes, postes de energia no caminho único, trilha bucólica que cruza um dos seus flancos.
Por Nivaldo Amstalden
Plantaram na mata da Tapera. Plantaram na maior mata urbana preservada de Valinhos. Mata resistente, renitente, resiliente e amada por todos.
Plantaram mudas crescidas, troncos fortes, mas sem vida.
Plantaram postes, postes de energia no caminho único, trilha bucólica que cruza um dos seus flancos. De poste em poste, alguns em zigue-zague, distância curta, teceram fios. Grossos fios enredados.
Alta-tensão gerada entre os legítimos habitantes da pequena floresta.
Pássaros e jacus reclamaram: “Não precisamos de mais galhos. Os que temos são suficientes para nossos ninhos e passeios”.
Macacos-saguis protestaram: “Onde já se viu? Será que vamos poder escalar com segurança troncos tão lisos e tão altos?”.
Cobras e lagartos saíram de suas tocas assustados com o barulho das escavadeiras, motores e máquinas: “Olha a lei do silêncio”.
Tatus e minhocas, que dominam a tecnologia, gritaram em uníssono: “Fizessem dutos subterrâneos, ora bolas. Que falta de modernidade!”. O macaco Rhesus, aquele de sangue forte, fator de antígeno, não fez vista grossa e praguejou lá das florestas do Oriente: “Cortaram o meu galho preferido”.
Uma comissão de bichos, entre eles formigas, cigarras e maritacas, decidiu ir ao MP, à Polícia Florestal.
No caminho, o gavião avisou: “Infelizmente não vai adiantar, as ‘obras’ foram aprovadas pelo Poder Público”.
A companhia de energia, que fala chinês, respondeu em bom mandarim: “Tudo aprovado, no papel, conforme planejado”.
Moral da saga: Quer luz? Feche os olhos.





Progresso chega ,a gente lamenta as perdas ambientais e só. Segue a vida😶✌️