Ao longo das últimas semanas, o Pé de Figo tem trazido uma série de textos que compõem o livro Crônicas da Resistência: em tempos de desconfiguração da Política Nacional de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas, publicada pela Associação Brasileira de Saúde Mental – Abrasme, com o apoio da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários do Brasil – Unisol Brasil.
Nesta edição, trazemos o texto “Caneta Não é Tudo”, escrito por Leonardo Pinho, como resposta ao texto “ACABOU” que rodou em redes sociais, escrito pelo Coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro Júnior, e Antônio Geraldo, da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Caneta Não é Tudo
Leonardo Pinho, 15 de dezembro de 2017
Ontem, após a Vitória parcial na reunião da Comissão Intergestores Tripartite (CIT),Antonio Geraldo da ABP e Quirino Cordeiro Coordenador Nacional de Saúde Mental, decretaram ACABOU. Para eles enfim retorna o modelo de ampliação do financiamento dos leitos em Hospitais Psiquiátricos (manicômios) e com foco principal na psiquiatria (leiam o pequeno texto, é tanta afirmação da psiquiatria que mais parece um problema de autoestima). Uma tentativa desesperada de uma profissão se afirmar sobre as demais.
O texto é uma ode de negação do que é uma visão moderna da administração pública e de uma visão intersetorial do cuidado e tratamento.
Quirino e Antonio Geraldo acham que ACABOU por apenas ter iniciado um processo, que por sinal, não foi feito em diálogo com os conselhos de direitos, que não dialogou com os diversos conselhos profissionais, que não respeitou as posições das Conferências Nacionais de Saúde Mental e que não realizou Audiências Públicas. Acham que porque de forma ríspida o Ministro da Saúde impediu o direito de fala do Presidente do Conselho Nacional de Saúde irá conseguir pela canetada impor o silêncio na sociedade.
Eles não entenderam que a gestão pública não é mais um ato isolado de uns poucos gestores, ou de apenas seu grupo de interesse, ela precisa ser construída através do diálogo e da pactuação. A sociedade é mais complexa que seu desejo de decretar o fim.
Sendo assim, Quirino e Antonio Geraldo, não será apenas com a força do lobby de interesses dos que lucram com a indústria da internação ou da caneta do Coordenador e do Ministro que vocês vão decretar: ACABOU.
Apenas começou e mais de 30 anos de história e de reconhecimento internacional, construído em diversos governos de matrizes ideológicas diversas, não será apagado apenas pela vontade dos senhores. Haverá muita resistência, diálogos, mobilizações em amplos setores da sociedade.
Não se esqueçam: Caneta Não é Tudo!
Leonardo Pinho é Diretor da Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME), Presidente da Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários – UNISOL Brasil, conselheiro do Conselho Nacional de Direitos humanos (CNDH) e do Conselho Nacional de Economia Solidária (CNES).