No entanto, nem tudo é pessimismo, pois no horizonte resiste a revigorante esperança de uma juventude que se organiza e se manifesta, ocupando o lugar de cidadãos que lhes compete.

Abril de 1964. Menino baixinho com 7 anos, aos pés da escadaria da Igreja Matriz de São Sebastião, lembro-me da aglomeração de homens com seus cinzentos ternos e chapéus.

Depois fui entender que se tratava da adesão da sociedade valinhense ao golpe militar de 1964, e o cortejo em frente à igreja era a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que, acreditavam, nos salvaria do comunismo. Sempre ele!

Mais tarde, a manifestação se estendeu à campanha “Ouro para o Bem do Brasil”, em que as pessoas fizeram fila, no antigo Salão Paroquial, localizado na esquina da Rua Itália com a 13 de Maio, para entregar seus anéis e correntes, num movimento nacional que arrecadou 1,2 toneladas de ouro, cujo destino sabe-se lá qual foi.

Os anos passavam e a cidade homenageava o governador biônico, nomeado pelos generais, com a denominação de um viaduto, e os eleitores diziam que votavam no Maluf porque “ele rouba mas faz”, e silenciaram envergonhados quando tiveram a poupança confiscada pelo Collor, o Caçador de Marajás, eleito presidente da República com esmagadora maioria nas urnas da Terra do Figo.

Mais recentemente, um emocionado “Obrigado Moro” foi publicado nas redes sociais de uma conterrânea, em idolatria ao novo herói nacional, cuja ação de manipulação da justiça resultou na condução ao cargo de presidente um despreparado, sufragado em Valinhos com nada mais nada menos que 77% dos votos.

Hoje, da janela vi os pequenos vales, que deram nome à cidade, se transformando em muros que avançam sobre árvores, nascentes e lagoas e os edifícios espetando a paisagem, convivendo num drama em comum com os bairros periféricos: o caos urbano e o conta gotas das torneiras.

No entanto, nem tudo é pessimismo, pois no horizonte resiste a revigorante esperança de uma juventude que se organiza e se manifesta, ocupando o lugar de cidadãos que lhes compete.

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