Exatamente no dia 31 de janeiro de 2021, quando se completava o primeiro mês do novo governo municipal, escrevi aqui mesmo no Pé de Figo: “A Prefeita Lucimara completa o seu primeiro mês de governo com a marca do diálogo e do sorriso, substituindo a mão-de-ferro do seu antecessor.” Confira aqui.

Quando me perguntavam quais eram as minhas expectativas sobre a gestão da nova ocupante do Palácio da Independência, respondia que o grande teste da Prefeita Lucimara seria o de como ela se comportaria diante da pressão dos empreendedores imobiliários.

Trata-se de uma preocupação justificável, pois é de conhecimento geral o bom e fino trato entre os empresários do setor e os prefeitos que antecederam a primeira mulher eleita prefeita de Valinhos.

Sem muitas dificuldades, loteamentos, condomínios e edifícios foram aprovados nas últimas décadas, pouco importando que a estrutura da cidade não suporta tamanho crescimento desordenado.

Tivemos até o exemplo de um escárnio protagonizado pelo ex-prefeito Orestes, ao publicar um vídeo nas redes sociais, por ocasião da ocupação pelo MST da área pertencente a Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários.

De celular em punho, à beira da estrada, diante da porteira do acampamento, o médico prefeito, investido do papel de advogado, tratou de tranquilizar os proprietários, avisando que já havia acionado a polícia e tomado as devidas providências.

Há que se compreender o momento difícil diante da explosão da pandemia da Covid-19 e o agravamento da crise hídrica. Circunstâncias em que a Prefeita demonstrou firmeza, tanto nas medidas de isolamento social, coroadas pelo sucesso da campanha de vacinação, quanto na adoção de um inevitável racionamento do fornecimento de água.

Porém, os últimos dias do seu primeiro ano de governo registram uma onda de desconfiança de que os interesses coletivos de toda uma cidade sucumbem, novamente, diante da irresistível sedução do setor imobiliário.

A condução das discussões do Plano Diretor, notadamente quanto à Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo e as notícias de aprovação de novos empreendimentos reacendem na lembrança as práticas dos governos anteriores.

Confesso que alimentei a esperança de que a Prefeita iria sancionar o Projeto de Lei que declara a Lagoa da Rigesa como patrimônio histórico-cultural do município. Afinal ela já se manifestara anteriormente pela preservação daquela área.

No entanto, alegando inconstitucionalidades e ilegalidades o documento aprovado de forma unânime pelos vereadores foi vetado, numa ação contrária à inédita e contundente manifestação da opinião pública.

Ressalte-se que, mesmo o importante decreto baixado pela Prefeita, suspendendo o esvaziamento e aterramento da Lagoa da Rigesa por 90 dias, contém um deslize imperdoável, pois cria um grupo de trabalho para estudar o caso, com nomeação de membros do governo e representantes dos proprietários e apenas menciona que “poderão ser convidados representantes da sociedade civil”.

Com o devido perdão do poeta Drummond, ouso recitar: no meio do caminho tinha uma lagoa. Tinha uma lagoa no meio do caminho.

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