Professores da rede municipal de Valinhos realizaram um ato nesta sexta-feira (30), em frente à Prefeitura, para repudiar o decreto da Prefeita Lucimara (PSD) que determina o retorno gradual às aulas presenciais no município.
Divididos em grupos, os trabalhadores da educação se revezaram na manifestação para demonstrar a necessidade de ampliar as condições para que todos os alunos tenham acesso adequado ao ensino remoto (via internet) e vacina para todos.
Um documento divulgado para esclarecer as razões do movimento diz: “Gostaríamos de reiterar que medidas como a ampliação da rede de internet, o acesso por meio de chip de celulares com dados móveis, o acesso a plataformas que permitem a vídeo aula – alunos e professor interagindo – em tempo real, são medidas que precisam ser realizadas urgentemente para que a prática pedagógica possa ser realizada de maneira remota e segura…todos e todas queremos nossas escolas abertas, mas com segurança sanitária e social.”
Veja a íntegra do documento divulgado pelos professores:
Nós, um grupo de professores do ensino fundamental I e educação infantil e Fundamental II da cidade de Valinhos, vimos por meio desta carta manifestar nosso REPÚDIO em relação ao decreto 10.788/2021 e a portaria 1098/21, ambos publicados em 23/04/2021, que trata do retorno gradual às aulas presenciais no município. Estamos trabalhando remotamente desde o início da pandemia, em 2020, de acordo com as orientações dadas pela SME (Secretaria Municipal de Educação).
Mesmo não tendo sido o planejamento desse trabalho algo coletivo, ao longo de todo o ano avaliamos e apontamos os problemas vivenciados e indicamos possíveis melhorias a serem feitas na plataforma de ensino, no contato com as famílias, na entrega de atividades impressas para os alunos que acessavam a plataforma via celular, bem como a falta de acesso de parte dos alunos, para que o ensino à distância ganhasse maior qualidade e atingisse a grande maioria dos alunos.
Nossa cidade compartilha do mal do Brasil, que é a desigualdade social, ou seja, os alunos das nossas escolas não têm as mesmas condições sociais e nesse contexto, a falta de acesso à internet, impactou significativamente a qualidade do nosso trabalho no ano passado. A SME, no entanto, parece não ter levado em consideração essas diferenças ao longo de 2020 e início de 2021, pois não ofereceu rede de internet às famílias que não têm acesso e nenhum tipo de dispositivo como tablet, Chromebook, ou aparelho móvel com acesso à internet, deixando a responsabilidade de atingir os alunos a cargo das escolas, seus professores e funcionários.
Cada escola, em face da falta de uma política educacional unificada no município, encontrou maneiras diversas de atingir e auxiliar, da melhor forma possível, as famílias. Ainda assim, cada escola trabalhou para melhorar a comunicação com as famílias através de grupos de whatsapp, telefonemas, busca ativa e, quando possível, encontros on-line, com recursos próprios (nossos e dos alunos). Entendemos que a pandemia é uma situação nova e desafiadora, tanto para o nosso município, quanto para o nosso país.
Nesse contexto, entendemos também que o ensino remoto da rede municipal de Valinhos, teria como crescer exponencialmente se a SME fornecesse os recursos mínimos aos alunos, como acesso à internet e dispositivos para os alunos que não têm acesso à mesma. É importante pontuar também que existem meios para que o ensino remoto aconteça no município de Valinhos, como temos visto em cidades próximas e no próprio estado de São Paulo.
Gostaríamos de reiterar que medidas como a ampliação da rede de internet, o acesso por meio de chip de celulares com dados móveis, o acesso a plataformas que permitem a vídeo aula – alunos e professor interagindo – em tempo real, são medidas que precisam ser realizadas urgentemente para que a prática pedagógica possa ser realizada de maneira remota e segura. Tais reivindicações estão sendo pontuadas a SME desde 2020. Aos professores, além de ferramentas necessárias a esse novo trabalho, é fundamental a capacitação básica para o uso das ferramentas digitais, de forma a suprir as necessidades imediatas da prática pedagógica, que a cada dia impôs novos desafios.
Ressaltamos que o fato de existir formações, não quer dizer que elas sejam em quantidade suficiente, nem tenham a qualidade necessária para que os profissionais aprendam e consigam fazer uso dessas tecnologias com seus alunos. Somos professores e, como profissionais que atuam no processo de ensino-aprendizagem e sabemos que as dificuldades apresentadas pelos alunos estão muito além de não compreenderem os conteúdos, pois apresentam situações emocionais bastante complexas, além da falta de recursos financeiros. Mas não pode se pautar que todas as possíveis perdas dos alunos vão ser resolvidas apenas com o retorno presencial, esse feito no pior momento da pandemia.
Um possível retorno sem as adequações necessárias nas escolas, como a garantia de ventilação natural nos espaços internos, espaço suficiente para garantir o mínimo de distanciamento, instalação de pias para higienização das mãos, contratação de pessoal em número suficiente para garantir a limpeza constante dos espaços escolares de forma adequada, distribuição massiva de EPI’s que sejam compatíveis com as novas cepas que circulam pelo Brasil (máscaras N95 ou PFF2). Sem esse mínimo, seria colocar em risco não apenas nós, mas as 12.000 famílias que compõem nosso corpo de alunos no município. Quando pensamos o retorno presencial, faz-se importante ressaltar que não se trata apenas de professores e alunos na sala de aula.
O retorno implica em uma maior circulação de pessoas no entorno da escola: transporte escolar, familiares que levarão o aluno até a escola, entrega de alimentos, entrega de materiais necessários às escolas, pessoas que realizarão as manutenções (que acontecem constantemente quando falamos de um espaço que é utilizado por muitas pessoas), etc. Aqui cabe ressaltar que fomos surpreendidos com o decreto da última sexta, uma vez que as expectativas dos professores com relação às promessas de adequação dos espaços escolares para a retomada segura das aulas presenciais, não ocorreram. E isso no momento em que o sistema de saúde do município está com 100% dos leitos de UTI ocupados, há semanas. Valinhos é hoje um dos municípios paulistas com maior taxa de contágio e mortos.
Além disso, também não recebemos nenhum tipo de orientação ou treinamento por parte da Secretaria Municipal de Educação ou da Saúde, de como podemos fazer esse retorno de forma segura. Agora, no auge da pandemia de COVID-19, será que a solução para nossa cidade é o retorno às aulas presenciais, sem as adequações mínimas nas escolas? Não seria mais prudente o planejamento estruturado de aulas remotas e atendimento virtual? Como ainda não temos claro qual o Plano de retorno às aulas presenciais está sendo seguido, e não há não é eficaz um retorno presencial escalonado, pois este ainda será combinado com o trabalho remoto, ou seja, os alunos que não possuem acesso à internet continuarão a esperar que a SME forneça alguma ferramenta que possibilite a aprendizagem a distância. E além de manter os alunos nesse esquecimento, que vem desde 2020, colocará em risco toda a comunidade escolar que estará participando do retorno presencial.
Precisamos ter consciência de que a escola não é uma ilha na comunidade, é parte dela, ou seja, se a escola se torna um local de risco, todo seu entorno está em risco. Nesse entorno temos pessoas com comorbidades, grávidas, idosos, deficientes, que estarão envolvidos nesse processo de retorno às atividades presenciais no pior momento da pandemia. Além disso, é necessário reivindicar o ACESSO E PERMANÊNCIA NA EDUCAÇÃO COMO DIREITO CONSTITUCIONAL! Para que as interações didático-pedagógicas remotas aconteçam com qualidade, a SME em conjunto com as Secretarias da Saúde e da Assistência Social, precisam com urgência fazer um mapeamento das famílias para reconhecer as suas reais necessidades e supri-las.
Por consciência social e sanitária que esta carta vem REPUDIAR O RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS NA CIDADE DE VALINHOS.
Por consciência pedagógica que viemos por meio desta reivindicar melhores condições de trabalho remoto, para conseguirmos trabalhar e atingir TODAS as famílias de maneira segura. É com o senso de responsabilidade que nossa profissão nos exige e pelas orientações que recebemos pelos documentos oficiais, ao cuidar e educar dos nossos alunos dentro do ambiente escolar onde estão na ausência de seus pais, ao zelar pela integridade física e emocional destes indivíduos em processo de formação, que decidimos expor todo o nosso DESCONTENTAMENTO com a situação do retorno de forma não segura.
Entendemos a educação como um trabalho essencial, mas que ao contrário da saúde, pode ser feita de forma remota, sem colocar a comunidade em risco.
TODAS E TODOS QUEREMOS NOSSAS ESCOLAS ABERTAS, MAS COM SEGURANÇA SANITÁRIA E SOCIAL



